PROMOÇÃO DE SEGURANÇA E COMBATE À VIOLÊNCIA HOMOFÓBICA/LESBOFÓBICA.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

ENTREVISTA FEITA A PROFESSORA MARIA DE FÁTIMA NASCIMENTO GONÇALVES




O Brasil é um país que se constitui nação com a colaboração racial e cultural de vários povos. Por muito tempo as outras nações olharam para o povo brasileiro como um povo onde todas as raças vivem em plena harmonia, ou seja; em plena democracia racial. Você concorda que todas as raças vivem de fato em nosso país sem desigualdades marcadas pela cor da pele?


Maria de Fátima: Não. Porque muitas vezes um (a) negro (a) e um (a) branco (a) tem a mesma cultura, mas ao concorrer principalmente no mercado de trabalho o branco (a) sempre sai na frente. As pessoas negras só são respeitadas se tiverem um poder aquisitivo melhor. Principalmente as mulheres. Na verdade as mulheres negras tem que impor o seu lugar, o seu espaço para serem respeitadas e reconhecidas principalmente no mercado de trabalho.

Você já sofreu preconceito por ser negra ou já foi discriminada e ou se sentiu inferiorizada por ser mulher?
M.F – Não, graças a DEUS. Eu sempre fui muito envolvida na sociedade. Já fui conselheira, vice-presidente da Associação de bairros, participei de movimentos na igreja e sempre fui muito respeitada e aceita por todos. Mas eu nunca cruzei meus braços. Eu sempre luto pelo meu espaço.

A dor de viver uma situação de preconceito ou discriminação racial é mais sentida a seu ver na ótica de sua vida social ou na ótica de sua vida enquanto pessoa?
M.F- Acredito que enquanto pessoa fere mais. Veja bem, quando uma pessoa é discriminada simplesmente pela cor da pele, a dor é sentida de forma muito mais profunda. Parece alcançar a nossa alma.

Você acredita que as mulheres que sofrem preconceito podem superar a discriminação?
M.F- Sim. Eu penso que pode ser do jeitinho que minha mãe nos ensinou e que eu trago como um lema de vida. “Seja humilde mais não deixe que ninguém te humilhe”. Nas diversas situações da vida devemos impor o nosso lugar e mostrar que somos capazes.

Como você vê a sociedade bom-jesuense em relação ao preconceito racial e de gênero?
M.F- Eu não vejo Bom Jesus como uma sociedade muito preconceituosa. Penso até que ela acolhe bem a diversidade. É claro que existem casos isolados. Vejamos nós temos uma representatividade significante de mulheres no poder em nossa cidade. Temos juíza, promotora, vereadora, secretária de educação e no passado uma mulher também foi prefeita. Eu já fui convidada a ser candidata à vereadora. Sou negra e sempre me orgulhei da minha cor.

Hoje nossas Universidades Federais utilizam cotas raciais e sociais para o ingresso de grupos socialmente e historicamente excluídos poderem ter acesso aos bancos universitários. Como você vê a política educacional de cotas?
M.F- Eu não acho que deveria ter cotas. Não existe diferença de cérebro pela cor. Mas a sociedade hipócrita sempre favorece o branco e assim ele sempre sai na frente. Por isso a política de cotas se torna necessária. Isto é visível. Quando temos encontro de professores no município podemos contar nos dedos das mãos o número de professores negros. Agora imagine você numa universidade!

Em seu trabalho as pessoas demonstram preconceito ou algum tipo de discriminação por negros ou pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social?
M.F- Na minha escola eu nunca presenciei nenhuma atitude preconceituosa.

Como você se Vê? Considera-se uma vencedora?
M.F- Me vejo como sou: mulher, negra, guerreira, mãe, esposa, professora. Sou raridade no quadro de professores do município pelo quesito cor. Formei-me com 17 anos e só ingressei na universidade aos 44anos porque minhas condições não me permitiam. Hoje tenho duas Pós Graduação. Nasci no Dia Internacional da Mulher. Por tudo isso e muito mais eu me considero uma vencedora.
Maria de Fátima Nascimento Gonçalves – Bom Jesus do Norte, 29/03/2012.


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